"Bolonha é uma cidade feia e o processo é o do Kafka."

Processo de Bolonha na FCSH [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa].

Confuso? Sem dúvida.

Resumindo em poucas palavras o Processo de Bolonha: todos os cursos universitários passam a ser constituídos por dois ciclos: a licenciatura de três anos mais o mestrado de ano e meio.

Já todos são doutores. Agora vão ser todos mestres.

Entrar na faculdade é já por si confuso. Na FCSH é simplesmente insano. Muito. Os créditos, o 'fazer-o-nosso-próprio-horário', o 'ninguém-saber-ajudar', o ‘esperar-três-dias-para-ser-atendido-na-secretaria-porque-só-estão-abertos-das-10h-às-12h-e-das-14h-às-16h-e-dos-sete-balcões-só-dois-estão-abertos’, entre outras tantas dores de cabeça.

E o facto de os serviços académicos, vulgo secretaria, não saber onde são os departamentos não ajuda. Nem o facto de esses mesmos departamentos estarem fechados para férias por altura das inscrições, obrigando os futuros alunos a deixarem os seus dados num envelope de plástico preso com um pionés a uma parede por cima de uma fotocopiadora.

A única coisa que funciona bem naquela faculdade durante as inscrições é o pagamento das propinas.

Quem entra para o próximo ano lectivo na FCSH vai ter estes problemas e mais um: o Bolonha. Mas assim que se consegue desvendar o Processo de Bolonha, qual Código Da Vinci, não é tão difícil quanto isso. Principalmente se pensarmos que os futuros caloiros nunca jogaram pelas regras antigas.

É quem já está na FCSH que vai ver a sua vida a andar para trás. Porque as cadeiras mudaram. Porque alguns minores [semelhante a áreas de especialização] deixaram de existir, deixando em apuros quem já os tinha começado a fazer. Cadeiras extintas que muito provavelmente não têm qualquer hipótese de equivalência no novo sistema, logo feitas em vão. E tudo porque decidiram que era melhor, que íamos estar ao nível da Europa.

Nós somos portugueses. Nós nunca vamos estar ao nível dos europeus. Ou vice-versa.

E depois o mestrado. Agora disponível para todos, com a única condição de se ser licenciado. A nota mínima de 14 foi abandonada mas não o custo. Nem toda a gente tem posses para prosseguir com um mestrado.

E ninguém sabe como o mercado de trabalho vai reagir aos novos graus de conhecimento. Será um licenciado pelo sistema antigo, logo com quatro ou cinco anos de curso, menos valorizado que um licenciado com três anos de curso mais um mestrado mais facilmente adquirido?

Ah, é verdade. Bolonha à parte, na FCSH, os extintores expiraram o seu prazo de validade em 2003 e as saídas de emergência da torre principal estão trancadas. Até há bem pouco tempo, as fotocópias eram tiradas num barracão e agora até as folhas de teste têm de ser pagas pelos alunos.

Como eu adoro a FCSH.