quinta-feira, setembro 21, 2006

A Odisseia de Josélito no País da Farfalhuda #23

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Capítulo XXIII


- Avozinha, porque tens uma boca tão grande?

A avozinha nem respondeu. Quando deu por isso, e qual conto infantil, Zé Tó estava dentro da barriga da avozinha que era nada mais nada menos que a Simara, que após meses e meses a comer uma ervilha, uma folha de alface e o próprio prato por dia, não resistiu e teve de petiscar qualquer coisa.

Já no estômago de Simara, Zé Tó acendeu um isqueiro que encontrou no bolso do casaco. E depois arrependeu-se porque o devia ter tirado do casaco primeiro, tendo ficado com o bolso um pouco chamuscado. Ao acender o isqueiro, já bem erguido no ar, qual concerto de Bryan Adams, Zé Tó mandou um berro devido ao que viu. Gepetto, em tronco nú, perseguia um Pinóquio também desnudado gritando ‘QUERES OU NÃO QUERES SER UM RAPAZ DE VERDADE?!’; mais à frente, como quem vai para o duodeno estavam os irmãos Hansel e Gretel vestidos de cabedal preto e empunhando chicotes à procura de uma boa palavra de segurança; o flautista de Hamlin atraía criancinhas inocentes e mostrava-lhes a sua flauta, e o príncipe buscava a sua Cinderella, numa desesperada tentativa de satisfazer o seu fetiche por pés.

Zé Tó pensou como a vida pode ser um conto de fadas. E depois pensou que a única maneira de sair de dentro da Simara envolvia dejectos humanos e um ambientador para a casa-de-banho. Olhou em todas as direcções à procura de algo que pudesse utilizar para escapar de uma outra maneira. Pegou no chicote de Hansel, no sapato da Cinderella e numa ervilha meio digerida e, lembrando-se do episódio dezoito da quinta temporada de MacGyver, fez uma bomba. Trinta segundos depois, e após uma explosão semelhante ao Big Bang, Zé Tó reparou que o que restava da perna direita de Simara tinha adquirido o seu próprio campo gravitacional e os restantes músculos, ossos e globos oculares seguiam uma órbita heliocêntrica ao redor desta.

‘Criei o universo.’, pensou Zé Tó. Foi então que reparou que tinha o nariz de Simara na mão. Estava intacto. Colocou-o no bolso. Sabia que ainda lhe havia de ser útil. Nada mais a fazer ali, Zé Tó decidiu voltar para trás e ir em direcção ao Cu de Judas.


Pode encontrar a outra perna da Simara aqui.

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