sexta-feira, novembro 11, 2005

A Odisseia de Josélito no País da Farfalhuda #9

Capítulos anteriores aqui.

Capítulo IX


Foram os salários desse trabalho que pagaram as gotas para os olhos e a prótese da perna que Mariema tanto precisava. Era difícil jogar às damas só com uma perna. Não obstante, Mariema era feliz a trabalhar naquele antro de pedofilia. Os recibos verdes não mentiam. Mas Mariema queria mais. O sonho de se tornar actor/actriz (o processo burocrático de mudança de nome ainda não acabara) continuava vivo. Desde sempre que sonhara em pertencer ao mundo do teatro. Lembrava-se de ser pequeno e ver os boxers do Carlos Quintas, enquanto este mudava de roupa em palco e dizia as suas falas. Mitos urbanos dizem que ele também dançava o fandango. Foi à luz desta lembrança que Zé Tó/Mariema resolveu ir à procura do sonho. Porque, já dizia o outro, o sonho comanda a vida e o mundo é uma bola nas mãos de uma criança. Demitiu-se do seu emprego e foi comprar uma miniatura da Ponte Vasco da Gama, para dela fazer um chapéu. Havia de conseguir entrar na revista “Passa pela Cocaína na Grande Noite da Linda Senhora Amália”, com as participações de Diogo Morgado no papel principal, Fernando Mendes, José Raposo, Maria João Abreu e Anabela no papel de bola de espelhos.

De chapéu na cabeça, partiu, então, para um local de meditação, um território inóspito, isolado do mundo, também conhecido como Olival de Basto. Foi aí, ao comprar uma lata de salsichas numa mercearia, que reparou que tinha amnésia. Decidiu ir a um médico que, apesar de licenciado, apenas falava ucraniano. No entanto, ficaram amigos. Mas Zé Tó, não percebendo a razão de usar um chapéu com a Ponte Vasco da Gama (ainda que lhe apetecesse dizer a alta voz e de braços erguidos: ‘Eu sou a Lisboa Nova!’), deitou-o fora. Diz-se que o chapéu ainda lá está. Abandonado. À espera de ouvir, pelo menos uma última vez, “SALVEM O PARQUE MAYER!”.


O próximo capítulo sairá brevemente. Mesmo brevemente. Para bem do co-autor.

1 comentário:

  1. Continuo extasiado com esta Odisseia!
    Proponho, quando esta terminar, a sua edição em canhenho!
    Saudações do leitor mais fiel desta Odisseia!

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